quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Livro do Mês nas Vendas



Com uma inovadora configuração plástica e gráfica, esta obra reúne uma narrativa visual de carácter dúplice ou duas histórias temporalmente distintas, protagonizada por uma mesma figura infantil, mas em idades diferentes. Nos dois momentos da história, ocorre uma situação de sedução, dominada também pela curiosidade, por um mesmo objecto e pelo que este esconde em si. Passaporte para o maravilhoso ou para o onírico, é num impreciso líquido azul, aí retido, que o menino, como se à pureza do espaço matricial pudesse assim regressar, mergulha livremente, desprendendo-se do real e do normativo. Na primeira parte, Sebastião, ainda bebé, vê-se no dorso de um peixe que o transporta até à entrada de uma gruta, guardada por um peixe-rei, celebrando-se aqui o encontro do “menino da terra” com uma “menina-sereia do mar”, rodeada por um polvo, vários peixes e uma tartaruga. Na segunda, a transfiguração do real repete-se a partir do elemento aquático, mas evidenciando uma maior complexidade simbólica e pictórica. O estado onírico em que Sebastião se descobre progressivamente a si próprio e se compraz é, porém, nos dois casos, interrompido por uma voz feminina. Com desfechos similares, os dois momentos correlacionam-se e instauram uma relativa circularidade diegética, a sugerir a impossibilidade de apagar a vontade e a liberdade individual de sonhar.

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